Entre a plataforma e o caderno: André (UEMG) sobre como manter o “fogo” aceso no EAD
André (UEMG) explica como combinar encontros síncronos, intervenções cirúrgicas por dados e uso responsável de IA para reduzir evasão e elevar o senso de pertencimento.

September 16, 2025
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Conversamos com André Martins, psicólogo clínico e professor de Psicopatologia na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Unidade Divinópolis, que desde 2020 coordena especializações a distância. No papo, ele compartilha como equilibra acolhimento humano, métricas de acompanhamento e ética no uso de IA para transformar a experiência do estudante adulto — sem romantizar os limites do ensino online.
Da clínica ao digital: o ponto de partida
Formado em Psicologia, mestre e doutor, André migrou da prática clínica para a docência e, desde 2020, conduz turmas de especialização a distância. Ele opera com plataformas consolidadas (LMS e videoconferência) e complementa com canais cotidianos (e-mail e WhatsApp) — sempre com um objetivo: reduzir a solidão do aluno EAD.
“Nós, seres humanos, gostamos de encontro. No EAD, a nossa presença é aquele foguinho que faz a lenha pegar de novo.”
Pertencimento antes da performance
A estratégia central de André é criar marcos de contato que importam:
Aulas-resumo síncronas (curtas, em horários acessíveis) para “dar rosto à disciplina” e facilitar dúvidas reais.
Seminários com convidados de diferentes órgãos e instituições, ampliando repertório e mostrando que o curso vai além do prescrito.
Encontros presenciais regionais quando viável, para renovar os laços de turma e conectar teoria e prática.
“Quando o estudante vê o professor, colegas e convidados, ele percebe que o curso está vivo e que há investimento real na formação dele.”
Engajamento com métricas (humanizadas)
Para André, acompanhar o estudante no EAD vai muito além de verificar acessos à plataforma. A métrica fria do sistema é apenas o primeiro sinal. O que faz diferença é transformar esse dado em ação humana. A equipe envia e-mails, mensagens no WhatsApp e até organiza aulas-resumo síncronas, em horários alternativos, para reaproximar quem estava se afastando.
“Nós, humanos, gostamos de encontro. No ambiente virtual isso se perde e dá solidão. Então precisamos dar uma dose de presença, um foguinho para reenergizar o aluno.” — André
Essa combinação de dado e cuidado é o que sustenta taxas de permanência em cursos que lidam com públicos exigentes, como trabalhadores da saúde espalhados pelo Brasil.
Currículo em movimento: do síncrono ao território
Mesmo com trilhas assíncronas, o curso ganha vitalidade em sábados temáticos, lives curtas e debates oportunos (por exemplo, saúde mental). A curadoria de temas emergentes mostra que formar-se é ir além do conteúdo obrigatório.
“A boa formação é para além do prescrito. O estudante lembra do que o tocou e não apenas do que estava no plano de ensino.”
Dois nós a desatar: aprender a aprender e infraestrutura
O professor é direto: o grande gargalo do EAD não está só na plataforma, mas em dois pontos centrais. O primeiro é cultural: a maioria dos alunos ainda não desenvolveu a competência de aprender a aprender, de reservar horas semanais de estudo e organizar seu ritmo. O segundo é estrutural: internet de qualidade e equipamentos adequados ainda são um privilégio em muitas regiões.
“Um celular não resolve para esse tipo de curso. Precisa notebook, internet estável. E ainda assim, mesmo em cidades grandes, a gente passa raiva com a conexão.” — André
Essa dupla limitação exige que as instituições criem metodologias mais flexíveis, combinando cronogramas claros com tolerância a imprevistos, para não perder estudantes no caminho.
IA na prática: inevitável, útil e com limites éticos
Na visão de André, a inteligência artificial já é parte inevitável da educação. Mas inevitabilidade não significa ausência de critérios. Ele usa em sala de aula exemplos simples para deixar claro: pedir ao ChatGPT um resumo pronto da disciplina ainda é plágio; já usar a ferramenta para organizar dados e agilizar a escrita de relatórios pode ser um ganho real.
“Aceita que dói menos: a IA é inevitável. Mas ela tem que ser potencializadora, não substituta. Alguns preceitos são inegociáveis — o aluno tem que manifestar seu próprio aprendizado.” — André
Para ele, o desafio é equilibrar ética e pragmatismo: usar a IA como suporte sem abrir mão da autoria e da experiência formativa.
Conclusão
Entre métricas humanizadas, encontros presenciais pontuais e o uso criterioso da tecnologia, André reforça que o centro da educação nunca pode ser a ferramenta.
“A tecnologia sempre será apenas ferramenta. A educação é produção de pessoas mais humanas.” — André
O recado é claro: a inteligência artificial pode e deve apoiar, mas o que transforma é a presença, o cuidado e a construção de sentido compartilhado.