Do centenário ao digital: Luis Henrique e a universidade de 2030

Entre legado e disrupção, Luis Henrique aponta como IA, microcertificações e integração digital podem transformar a universidade rumo a 2030, sem perder de vista a missão educacional.

Antonio Gouveia

September 16, 2025

Dados e tendências

O debate sobre o papel da tecnologia e da inteligência artificial na educação superior tem ganhado força, mas poucas vozes conseguem equilibrar visão de futuro e cautela institucional como a de Luis Henrique dos Santos, Pró-Reitor de Pós-graduação no UNASP. Com uma trajetória que conecta gestão acadêmica, pesquisa aplicada e liderança estratégica, ele compartilha como enxerga o presente e o futuro das universidades — entre desafios de integração, regulação e inovação.

Planejamento estratégico como bússola

Luis relembra que, antes mesmo da pandemia, o UNASP já havia lançado um plano estratégico sólido para 2020–2025. Essa visão de longo prazo incluiu a digitalização da jornada do estudante e o fortalecimento da infraestrutura de TI. Quando as aulas presenciais foram suspensas em 2020, a instituição estava preparada para garantir continuidade: contratos corporativos com plataformas de vídeo-conferência, o uso de LMS e a implementação de ERP foram peças que se encaixaram rapidamente.

“Não tiramos cinco soluções da cartola. Nós juntamos o que já tínhamos. Providencialmente, foi suficiente para começar sólido.” — Luis Henrique

Esse olhar de planejamento baseado em recursos — em vez de respostas improvisadas — foi decisivo. Para ele, mais do que tecnologia, o maior desafio estava no capital humano: 20% dos professores eram entusiastas, 20% resistentes e 60% estavam dispostos a aprender, mas precisavam começar do zero.


Integração: a colcha de retalhos que pressiona a gestão

Apesar dos avanços, Luis é realista quanto ao cenário atual. Ele descreve a tecnologia das universidades como uma “colcha de retalhos de luxo”: sistemas robustos, mas que demandam alto custo e esforço de integração.

“É uma colcha feita dos melhores tecidos, mas ainda assim continua sendo uma colcha de retalhos.” — Luis Henrique

ERP, LMS, sistemas legados e novas exigências do MEC, como validação digital de documentos, tornam o processo complexo. A cada integração, sobra para a instituição o custo de tempo, equipe e estresse operacional. Para ele, a IA poderia aliviar esse peso, mas ainda falta maturidade cultural para enxergá-la como ferramenta de gestão, e não apenas como apoio pedagógico.


IA: entre ética e eficiência

Em 2024, o UNASP criou um comitê para refletir sobre inteligência artificial. O relatório final foi motivo de orgulho: trouxe fundamentos em pedagogia, ética e andragogia para orientar professores e estudantes. No entanto, a dimensão administrativa ainda está pouco explorada.

“Evoluímos no debate pedagógico e ético, mas precisamos dar um passo além: IA também muda o modelo de gestão.” — Luis Henrique

Hoje, o uso ainda se restringe a frutos fáceis — como correção de provas, geração de resumos e chatbots. Mas Luis aponta que a grande virada será cultural: adotar IA para automatizar processos críticos, como validação documental, análise de desempenho e personalização em larga escala.


A universidade de 2030: três visões

Ao projetar 2030, Luis traz três perspectivas:

  1. Mercado e academia mais próximos

    Ele acredita que cursos não podem ser redesenhados apenas por núcleos docentes. É preciso ter empresários, líderes de RH e gestores de mercado participando ativamente das discussões curriculares. Caso contrário, o diploma corre risco de perder relevância nas áreas não regulamentadas.

  2. Diploma como portfólio de certificações

    A graduação será acompanhada por microcertificações e nanocursos oferecidos em parceria com empresas. Assim, o estudante não sai apenas com um título, mas com um pacote de competências reconhecidas globalmente, muitas delas registradas em blockchain.

  3. O obstáculo regulatório

    Luis ressalta que o Brasil ainda sofre com um tempo de resposta lento na legislação educacional. A alteração de uma matriz curricular pode levar até um 1 apenas na fase de aprovação, somando mais 4 a 5 anos para sua implementação completa — um ritmo incompatível com as demandas do mercado, que cobra respostas em apenas seis meses. A universidade de 2030, para ele, será resultado de negociação constante com a regulação e da criatividade institucional para não perder relevância.

“Seis anos para implementar um curso, em um mundo que muda em seis meses, é inviável. Precisamos de velocidade.” — Luis Henrique


Conclusão: legado com futuro

Luis Henrique sintetiza sua visão lembrando que o UNASP carrega mais de 110 anos de história, mas precisa estar preparado para os próximos cem. Para ele, a universidade do futuro não será apenas digital ou presencial — será um organismo vivo, que aprende, se conecta ao mercado e reinventa a forma de entregar valor.

“Não seremos os early adopters, mas também não podemos ser a minoria tardia. Nosso papel é encontrar o equilíbrio entre tradição e competitividade.” — Luis Henrique

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